Confissões de uma Pena
Apenas a pena pequena flutua serena, errante, gigante
01 maio, 2012
sussURRO
Desassossego rompendo o peito
Parindo rebentos incertos, descabidos.
Retalhos de esperanças cobrindo todo o chão
Em que meus pés se debatem enquanto o ar se esvai
Sem direção, sem som, sem urro, abato-me com pena
E medo da dor que não vem e não se vai...
Presa no estupor do limbo, arranco a pele que me cobre e esconde
E não me encontro entre as veias que me saltam dos músculos.
Outro dia, outro grito, outra vez muda sigo o rumo das circunstâncias
Correndo imóvel no ponto onde a lógica me priva a voz da emoção
E no depósito das inúteis alterações deparo-me com o espelho em que não me reflito, no lago em que se acumulam meus gemidos.
Outra vez afogo-me no turbilhão cretino
Ao som desesperado dos risos vítreos que me saltam do umbigo...
Tatiana Lima Mamede.
Deleite-se ouvindo The day that never comes - Metallica
28 abril, 2012
Debulhar
Hoje choro desbordando-me em estanques movimentos
Tateando fios obscuros dos subterrâneos inadmitidos
Vertendo sangrias, males indigestos, camas desfeitas, amores sem teto
Gotejo estupores calados, rios amaldiçoados,
Pingo o nó incessante acomodado na traqueia,
fingidor de alívio enquanto mais me sufoca os sentidos.
Agora caminho rochedo adentro
Derretendo-me em direção ao Abismo.
Tatiana Lima Mamede.
Deleite-se ouvindo Como se sente - Capital Inicial
29 novembro, 2011
Perplexidade
e é o mesmo diferente novamente e mesmo ela em certeza
se transmuta antes de acordar hesitação noutro dia.
A Certeza, desamparada, perde-se nas vias da Dúvida ensimesmada:
Se quem amo me sangra, e de amar não tenho dúvida, então amanhã mais amo e de gota em gota morro-me?
Mas amar mais meu algoz não é amar menos a alma que me anima? E se se modifica e vira o amor que tanto doo o ódio que repugno, mais certa ou inconstante eu seria?
E se tergiverso sobre a constância do que sinto, menos verdadeiro é o seu sentido?
Altaneira sorri a Dúvida sobre o dia em que se deitará mais certeza e deixará menos convicta aquela que assim adormeceria.
Tatiana Lima Mamede.
Deleite-se ouvindo Out of our minds - Melissa Auf der Maur
09 novembro, 2011
Inominada
Cansava-se do cansaço constantemente chicoteando-lhe o corpo.
Irritava-se com as insidiosas insinuações intelectualmente infundidas.
Deitava-se em decúbito e debulhava dores draconianas.
Mareava-se mirando a morte...
que nunca chegava.
Cansada comia o coração curtido nos cabedais carmins.
Iaô* do Infortúnio intrínseco e impedente
De descender de deuses divagantes.
Mirava a miríade de mulher-ser morrendo
afogada na essência de não-ser, vir a ser, não se saber.
Arfava-se amante de suas angústias, anelando-as
Perdendo-se entre o Pânico e o Nada.
Do outro lado da janela o Dia a enxerga sem ver-lhe a Alma.
Tatiana Mamede.
* substantivo feminino
Rubrica: religião. Regionalismo: Brasil.
1. nos candomblés nagôs, denominação da inicianda após haver passado pelo banho ritual de sangue (sundidé)
2. nos demais candomblés, filha de santo (esta é a acepção utilizada no texto)
3. em alguns centros de umbanda, pai de santo
Dicionário Eletrônico Houaiss, Objetiva: 2009.
Deleite-se ouvindo Enter Sandman - Apocalyptica
29 agosto, 2011
Notícias
Tenho ido como quem caminha sobre espinhos
E colhe rosas, cravos, jasmins e infinitos
E dores e suplícios distribuídos em sorrisos
Emudeço nos dias em que acordo morrendo em suspiros
Espedaço-me nas horas frias em que sozinha
me desencontro.
A Confiança, tão aguerridamente conquistada, escapuliu-me
entre os dedos com as marcas da batalha.
E profundas, tantas eras depois, doem de injúria marina...
Tão no âmago guardadas que até se escondem de minha fala.
Ainda resta uma partícula, teimosa, que não se entrega,
E guerreira, forte, amorosa e solidária
Agarra-me o coração com ternura insistente
a levar-me, entre sussurros e descomposturas e incentivos de Mãe
A perceber as rosas, cravos, jasmins e infinitos,
E se vivem, então também vivo.
Tatiana Mamede
Deleite-se ouvindo A Via Láctea - Legião Urbana
24 agosto, 2011
A hora incerta
Um coração sua ânsias de retorno
Mas o caminho esconde-se fantasmagoricamente.
Como se abraça aos saudosos
Se o afastar foi uma batida irrecusável do âmago?
Intermitentes, os desejos de regresso
angustiam a Razão...
Tresloucada não se acha ou aquieta.
Não atina qual a devida equação
Entre a sua verdade e aquela que se pode propagar
Aos que do desvio urgem explicação.
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Impossível contar os mundos velhos novos que se visitam
Inexprimíveis as realidades em que se cavalga
No templo do íntimo.
Inexplicáveis os motivos e necessidades que se atendem apenas no imo.
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Palpável apenas a saudade reinando sobre a emoção.
Tatiana Mamede.
Deleite-se ouvindo Blackbird - The Beatles
16 agosto, 2011
Obliterante
Olhos abertos e tudo está bem.
O céu continua a estender-se acima
E a terra permanece sob os pés.
Ninguém morreu. O mundo não acabou
e as flores continuam a brotar.
Mas não é verdade. Há muito que sequer o amarelo é real neste sorriso
Sobre a cabeça pesa um lodaçal de ilusões natimortas
e vontades descasadas dos impulsos de realização
Sob os pés é vazio que se adona, atormentando as esgarçadas seguranças
Olhos abertos e nada está bem
Um suspiro se vive e morre nos segundos
Em que abro os olhos para o mundo.
Tatiana Mamede.
Deleite-se ouvindo Incomplete - Alanis Morissette
08 agosto, 2011
...
Apavorante luz imiscuindo-se pelas janelas
Algazarra de respirações projetando-se ouvido adentro
Odores variegados... familiares desconhecidos
Noite que não vem para envolver em seu silêncio
Os terrores que sacodem a alma de sua quietude.
Tatiana Mamede.
Deleite-se ouvindo Sempre não é todo dia - Oswaldo Montenegro
12 junho, 2011
Perfeição
Foto:Xenia Eliassen
A ela buscava... achei-a clara, desvelada, nua e amorosa.
A composição justa, a rima perfeita de métrica exata e figura irretocável
Minha inspiração precisa, imaculada, dormia nos veios dos seus dedos,
em seu terno abraço e afetuosos lábios, nestes olhos de pecã...
Busquei a perfeição singrando caminhos
que foram somente desvelos do destino caprichoso
Preparando-me para encontrar em você meu perfeito abrigo.
Deleite-se ouvindo Yellow - Coldplay
24 dezembro, 2010
Brumas
Foto: Google Images
Tenho conhecimento apenas de mim mesma.
E mesmo este saber é ínfimo.
Perco-me entre as paredes;
Minhas luzes e meios tons.
Nunca sei se me falo do presente, dos dias que virão ou dos mortiços passados.
Percebo apenas este abraço constante e opressor
Das Mágoas que se perderam nas águas do rio,
Tornaram-se gotas não identificáveis de um ermo mal de abandono
Sem nome, sem destino e sem causa.
Aperto a longa noite do meu peito como quem alimenta aos pássaros.
E embora veja e reconheça as cores dos dias e alegrias e amores em minha vida
Todos embaçam-se ante esta presença metálica que me cerca
E aperta e conforta, porque a conheço e Ela a mim, e mesmo depois da ausência
Prolongada, achou-me nestes dias em que iniciava conhecimentos com o Sol e com a
Maciez da Terra. Achou-me, saudosa, abraça-me e nega-se a ir.
Insegura, deito-me em seu colo e, por vezes, bastam-me as gotas cristalinas
Dando sentido as brumas iluminadas dos meus dias.
Tatiana Mamede.
Deleite-se ouvindo Never gonna be the same - Courtney Love
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