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06 dezembro, 2007

Súplica

Foto: Riser


Escrevo com a mão torta, a mão rota, a mão morta
Espalha a mão amada vocabulários sem ordem
no pálido amante ávido
Entorta ais e emenda desejos triviais
em agonias de criar vida de palavras mortas
A mão muro, a mão porta, a mão fátua
Guia os olhos para as mortas caladas, aninhadas,
aguardadas, as desejadas sujeitas da minha língua inanimada
Abra-se, mão ignota, mostra a face cadavérica
Renascente de cada vocábulo esquecido em cantos de tristes alcovas
Levanta mão, desprega do flagelo lápis
Deixa de escrever mão amada, mão amaldiçoada, mão apaixonada
Caia em outra mão! Abarca-a de todo,
Sinta dela o odor, aspire o sangue terror.
Apague-se mão exilada.
Liberte-se, agarra a maçaneta ansiada.
Liberte-se, mão esganiçada, fuja da palavra enfurrajada.

Tatiana Mamede.


Deleite-se ouvindo Snowblind - Black Sabbath


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